terça-feira, 27 de abril de 2010

Estátua Equestre D. Pedro IV











Foi durante o Portugal oitocentista que se instaurou no país o liberalismo. Este começou a sua jornada em 1820, no Porto. Foi também no Porto que se realizou a guerra civil que colocou frente-a-frente os dois príncipes irmãos.

O Porto não pôde deixar de prestar a sua homenagem ao Rei Soldado que lutou pelo liberalismo português e deixou o coração à cidade. Na Praça da Liberdade encontra-se o “monumento que melhor evoca o liberalismo portuense”. (Germano Silva) A estátua equestre de D. Pedro IV, representa o Rei Soldado a oferecer a Carta Constitucional ao povo português.

A estátua com quase seis metros e altura foi fundida na Bélgica, sob a direcção de Verhaeren. Apesar da sua construção se ter iniciado a 9 de Julho de 1862, como comemoração do desembarque das tropas liberais, a estátua apenas foi inaugurada em 1866. A sua inauguração em 1866 foi uma verdadeira celebração, estando presentes na cidade o rei D. Fernando,D. Maria II, o filho D. Luis, herdeiro do trono português por morte do seu irmão mais velho.

Nas laterais da estátua em bronze estão representados a entrega da Bandeira dos Voluntários da Rainha a Pedro de Mello Breyner, aquando do desembarque na praia do Mindelo, em 1832, e a entrega do coração de D. Pedro à cidade do Porto, entrega feita pelo visconde de Campanhã à Câmara do Porto, em 1835.

D. Pedro ficou na memória dos portuenses como um ícone de liberdade e patriotismo. As lutas travadas na cidade durante o Cerco do Porto sensibilizaram o monarca, que demonstrou a sua empatia e gratidão para com a cidade ao visitar o Porto, logo após o fim das lutas liberais. A estadia de D. Pedro na cidade foi caracterizada por diversas cerimónias civis, religiosas e militares, algumas delas realizadas na Igreja da Lapa. Assim, por vontade de D. Pedro, oficializada no seu testamento, o seu coração foi depositado na Igreja da Lapa, em 1835. D. Pedro IV ficará para sempre associado ao liberalismo, e este foi acolhido pela cidade do Porto. Por isso, “Erguer um monumento ao Homem famoso, que duas vezes deu a liberdade ao paiz, primeiro com a penna e depois com a espada, era um dever dos portuguezes”.

Na estátua equestre, estão também inscritos, nos dois lados da base, os nomes dos liberais enforcados na Praça, em 1829. A execução dos doze militares liberais foi um dos dias mais trágicos da história do porto. No dia 7 de Maio de 1829, doze cidadãos, a que se chamaram de Mártires da Liberdade, foram decapitados na Praça Nova, actual Praça da Liberdade. O Porto não poderia ficar indiferente à morte destes cidadãos que deram a vida em nome dos ideais liberais. Assim, a cidade honra os seus Mártires evocando-os em dois sítios diferentes da cidade, o Campo dos Mártires da Pátria e a Rua dos Mártires da Liberdade. No actual Campo dos Mártires da Pátria, então chamado Largo do Olival, foi erigido um monumento fúnebre que evocava o acontecimento da Praça Nova, no entanto, a construção já não existe.


Serra do Pilar




O Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, foi um dos pontos estratégicos mais importantes durante o Cerco do Porto, sendo convertido a quartel de artilharia. O local, elevado a fortaleza, já havia sido de extrema importância durante as invasões das tropas napoleónicas, em 1809.

O Mosteiro foi fundado em 1537, pelo Bispo do Porto, para albergar os cónegos do Mosteiro de Grijó, na altura, muito degradado. O Monumento Nacional foi classificado como Património Mundial, pela Unesco, em 1996. O Mosteiro é um exemplar único em Portugal, devido à sua planta circular, modelo proveniente da arquitectura civil.

“Que monumento existe no moderno Portugal mais rico de recordações gloriosas, do que este mosteiro tornado em castello da liberdade, e cingido em vez de muralhas, de peitos illustres affeitos á victoria!”

A Serra foi um local de interesse estratégico das duas tropas rivais durante o Cerco do Porto. “Alli, pouco antes morada da paz, (…), ergueu-se um theatro de combates fraticidas!”[1]

O mosteiro, então quartel-general, foi local de refúgio das tropas miguelistas lideradas por Santa Marta, de imediato expulsas pelo exército liberal. Dos ataques à Serra salienta-se o do dia 14 de Outubro de 1832, o ataque do exército miguelista que pretendia derrubar as tropas liberais e tomar posse do Mosteiro. “A conservação da Serra no Pilar na posse de D. Pedro, (…) era sentida no campo adversário como a mais flagrante prova do pouco brilhantismo das acções até aí desenvolvidas pelos absolutistas” (Martelo, 2001:51)

A operação de ataque à Serra teve início no dia 13, com um intenso fogo que se prolongou até ao dia seguinte. Apesar do superior número de homens, as tropas miguelistas saíram derrotadas deste ataque, sendo a última tentativa de conquista do ponto mais estratégico da margem esquerda do Douro. O combate causou acentuadas baixas de ambas as tropas, contando-se 600 mortos e feridos do lado miguelista. Após a vitória D. Pedro apercebeu-se que “o sucesso da defesa da Serra do Pilar constituía uma contribuição decisiva para a conservação da cidade do Porto” (Martelo, 2001:54)


[1] In História Abreviada dos Acontecimentos do Cerco na Cidade do Porto


Palácio das Carrancas

Durante o cerco do Porto, o actual Museu Soares dos Reis foi a residência de D. Pedro. O antigo Palácio das Carrancas, ao longo da sua história hospedou personagens ilustres, nomeadamente, o general Soult, em 1809, aquando das invasões francesas, o duque de Wellington e o general Beresford.

Apesar de servir de quartel-general, a D. Pedro IV, este permaneceu aí pouco tempo, com receio que os absolutistas bombardeassem o edifício. D. Pedro mudou-se, então, para a Rua de Cedofeita, local protegido, sendo também por isso, o local onde se instalaram os serviços públicos mais importantes.

Mandado construir em 1795, para habitação e fábrica dos Moraes e Castro, família burguesa, o projecto foi atribuído a Joaquim da Costa Lima Sampaio, arquitecto portuense que participou em obras como a Feitoria Inglesa e o Hospital de Santo António.

O Museu Nacional de Soares dos Reis foi fundado em 1833, com a designação de Museu Portuense de Pinturas e Estampas, instalando-se, não no actual edifício mas, no Convento de Santo António, actual Faculdade de Belas-Artes. O Museu apenas se mudou para o Palácio das Carrancas, onde se encontra actualmente, em 1940, já com o nome de Soares dos Reis, em homenagem ao primeiro pensionista do Estado em escultura pela Academia Portuense de Belas Artes, António Soares dos Reis, autor do Desterrado.

Durante a guerra civil, o Museu destinou-se à recolha de bens confiscados aos conventos abandonados e extintos, seguindo, paralelamente, um programa cultural e pedagógico, apoiando os artistas da Academia e divulgando as obras de arte através de exposições públicas. Os programas sociais do Museu contribuíram para o enriquecimento da cultura artística do Porto oitocentista.

Obelisco da Memória

8 de Julho de 1832, o dia do desembarque dos bravos do Mindelo. A praia do Mindelo foi palco do desembarque liberal, que principiou a luta contra os miguelistas.
Devido a este acontecimento, encontramos na actual praia da Memória, em Matosinhos, o monumento em homenagem às tropas liberais, o Obelisco da Memória. Não se sabe ao certo se foi nesta exacta parte que se deu o desembarque, mas a decisão do local onde se construiria o monumento foi feita com base em testemunhos dos soldados do exército liberal.
O monumento foi mandado construir em 1835, por iniciativa de António José de Ávila, contudo, só foi inaugurado em 1880. A primeira pedra foi lançada a 1 de Dezembro de 1840, com a presença da rainha D. Maria II.
No obelisco em granito com 16 metros de altura, figuram a data do desembarque do exército libertador em duas coroas metálicas visíveis no topo. Quatro painéis calcários na base registam referências à iniciativa da construção, ao número de combatentes, aos nomes de alguns comandantes e a famosa proclamação que D. Pedro IV fez aos seus soldados antes do desembarque: “Soldados! Aquelas praias são as do malfadado Portugal: ali, vossos pais, mães, filhos, esposas, parentes e amigos suspiram pela vossa vinda, e confiam nos vossos sentimentos, valor e generosidade. Vós vindes trazer a paz a uma nação inteira, e a guerra somente a um governo hipócrita, despótico e usurpador. A empresa é toda de glória; a causa justa e nobre; a vitória certa...”.

Campo 24 de Agosto




Portugal começou a sua jornada liberal a 24 de Agosto de 1820, no Porto. A conjuntura anteriormente apresentada possibilitou a união da burguesia liberal, das forças armadas e de todo o povo português humilhado e atormentado. Nada mais se podia esperar do que uma revolta militar que acabasse com a actual situação do reino. O Porto foi mais uma vez palco de uma revolta, que mais tarde se alastraria por todo o país.

Esta importante primeira revolta liberal teve lugar no Campo de Santo Ovídio, actual Praça da República, onde os militares formaram uma parada e ouviram a missa. Uma salva de artilharia fez anunciar a revolução e os coronéis dirigentes Sepúlveda e Cabreira leram proclamações aclamadas pelos soldados. A união de interesses permitiu o sucesso do acontecimento, que encontrou adesão imediata em todo o país.

No Porto, actualmente, a revolta pode ser relembrada através da designação de Campo 24 de Agosto ao antigo Campo Grande. O local apenas passou a designar-se Campo 24 de Agosto em 1860, para comemorar a revolução. Até então teve outros nomes como Campo do Poço das Patas e até mesmo, em épocas medievais, Campo de Mijavelhas.